segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Novas leis eleitorais levam a grande número de chapas puras



Das 15 que disputam a Prefeitura de BH, 12 são formadas por correligionários


Foto: Léo Fontes / O Tempo
Por SÁVIO GABRIEL
28/09/20 - 03h00
https://www.otempo.com.br/

Além do número recorde de candidaturas em relação aos últimos anos, a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2020, que se iniciou oficialmente nesse domingo (27), é marcada também pelo maior percentual de chapas puras nas duas últimas décadas.

Das 15 chapas que vão para a disputa, doze são com prefeito e vice do mesmo partido, ou seja, 80% têm essa configuração. No recorte histórico, o cenário atual supera inclusive o ano 2000, quando 70% das candidaturas foram encabeçadas por correligionários.

Apostaram em chapas puras em 2020, além do PSD, que já comanda a capital mineira, o PSDB, Patriota, PCO, PT, Partido Novo, Republicanos, PCdoB, PRTB, Solidariedade, PMB e PSTU. O crescimento é de 300% em relação à última eleição municipal, em 2016, quando apenas três legendas optaram por lançar nomes de seus próprios quadros para a vice-prefeitura.

As legendas que mais apostaram nesse formato foram PSTU e PCO, com cinco eleições cada uma. Já os tucanos voltaram a testar esse modelo depois de 20 anos, quando João Leite e Edward Bedetti foram os representantes do PSDB no pleito daquele ano. Para 2020, a aposta é em Luisa Barreto, ex-secretária adjunta de Planejamento e Gestão do Estado, e Juvenal Araújo, um dos fundadores do Tucanafro – movimento do partido em defesa da população negra.

Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, a proibição das coligações proporcionais, que passou a valer neste ano, é um dos principais fatores que explicam essa mudança.

“Os partidos ficaram pressionados para poder ter uma melhor bancada para vereador e passaram a lançar candidatos próprios para prefeito e ganhar um tempinho a mais para a propaganda eleitoral”, explica. Este é o mesmo motivo que está por trás da grande quantidade de candidatos neste ano, segundo especialistas.

A cláusula de barreira, que estabeleceu um desempenho eleitoral mínimo das siglas para que elas possam acessar o Fundo Partidário e o tempo gratuito de televisão, também é outro fator que pesa, na avaliação da cientista política da Universidade Federal de Minas (UFMG) Érica Anita Baptista.

“O número de candidatos é maior do que muitos especialistas estavam prevendo em função da conjuntura e também pela cláusula, que obriga os partidos a se lançarem na disputa, principalmente com chapas puras”.

Na leitura da especialista, esses dois pontos dificultaram as alianças. “Há as dificuldades das alianças que normalmente são feitas numa disputa eleitoral. Neste ano não seria o momento de tantos acordos assim, e isso favorece a formação das chapas puras”.

Kalil e PSD optam por vice da legenda

Alexandre Kalil (PSD) é o primeiro desde 1998, quando a reeleição passou a valer, a tentar um novo mandato tendo como vice um correligionário. Embora a coligação conte com sete legendas, optou-se por um nome da mesma sigla de Kalil, Fuad Noman.

Na avaliação de especialistas, isso sinaliza uma pretensão de continuidade da atual gestão. “O que Kalil quer sinalizar é a continuidade do mandato a partir da possibilidade de deixar a prefeitura caso seja eleito numa possível disputa para governador”, analisa o cientista político Malco Camargos.

“O vice eventualmente assume a gestão. E sabemos que Kalil deve ser candidato daqui a dois anos ao governo de Minas. Então, o partido sabe da possibilidade de perder o prefeito”, reforça Adriano Cerqueira. Ainda na avaliação dele, existe uma pressão natural dentro dos partidos para que candidatos à reeleição se lancem em chapas puras para que a legenda continue à frente do município caso o prefeito tenha que se afastar.

Para Érica Anita, estar numa ampla coligação e, ainda assim, escolher um vice da mesma sigla pode ser benéfico junto ao eleitor. “Isso sinaliza que os candidatos a prefeito e vice não estão comungando de jogo político”.

Tendência pode ser validada nas urnas

Embora o fim da coligação nas chapas proporcionais, que passou a valer neste ano, seja apontado como um dos principais motivos para o aumento das chapas puras, os especialistas afirmam que ainda é cedo para afirmar se haverá uma tendência de que correligionários encabecem a disputa aos Executivos municipais.

“Para pensarmos nisso como tendência, vamos ter que avaliar o resultado deste ano, ver se de fato foi uma estratégia que contou ponto na hora da validação do voto do eleitor”, pondera Érica Anita Baptista.

“Claro que se faz uma leitura do cenário quando o partido pensa em lançar chapa dessa forma. Certamente fizeram essa pesquisa do que estava acontecendo na cabeça do eleitor brasileiro, principalmente o belo-horizontino”, complementa.

Adriano Cerqueira concorda. “Vai depender muito da dinâmica eleitoral em si, mas com o fim da coligação proporcional essa tendência de o partido ter candidato a prefeito e com isso a possibilidade de a chapa ser mais pura aumentou”, reforça, ressaltando que a cláusula de barreira nas eleições de 2022 também será um elemento a mais para o próximo pleito municipal, em 2024.

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