sábado, 23 de março de 2019

Governo lança programa de revitalização de bacias




Proposta foi apresentada na Semana da Água e pretende ir além das ações de recomposição e restauração florestal
Divulgação/Semad
O programa foca em áreas prioritárias definidas a partir de critérios técnicos

O Governo de Minas Gerais acaba de oficializar, em sintonia com o Dia e a Semana Mundial da Água, o lançamento do Programa Estratégico para Revitalização de Bacias Hidrográficas. A ideia é estabelecer uma nova perspectiva para o trabalho com a revitalização de bacias, indo além das ações habituais. No programa, estão mantidas as ações de recuperação e reflorestamento, mas o diferencial está justamente na integração com o uso de novas tecnologias para o uso sustentável de água, saneamento e abastecimento de água e esgoto.

De olho na melhoria da qualidade e da quantidade de água, numa visão ampliada sobre a revitalização das bacias, o programa foca em áreas prioritárias, definidas a partir de critérios técnicos. Neste contexto, conta com a união de ações desenvolvidas também por outros órgãos do Estado.

“Minas Gerais se destaca do ponto de vista econômico e ambiental, e a água tem uma função extremamente importante nisso. Com o lançamento desse programa, iremos desenvolver ações por meio da segurança hídrica, do reflorestamento e do uso de novas tecnologias que poderão garantir maior excelência na gestão das águas em nosso estado”, disse o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, na ocasião de lançamento do programa.

Segundo Vieira, todo o projeto está estruturado metodologicamente, com a definição de ações, metas e resultados, que serão construídos em parceria, inclusive com a sociedade, por meio de uma Consulta Pública. "As premissas estão postas. Agora, vamos estabelecer junto com a sociedade, com os Comitês de Bacia e com outros órgãos de governo quais serão as ações a serem desenvolvidas”, frisou o secretário.

Alguns exemplos, como a recuperação de nascentes e de áreas degradadas, além de ações de incentivo para uso de tecnologias de reuso de água, seja na indústria, como na agricultura, também foram citados por Germano Vieira. “Essas ações poderão ser realizadas em parceria com a sociedade civil e também com a iniciativa privada”, disse.

Presente na abertura da Semana da Água, a secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Ana Maria Valentini, reforçou que o termo "revitalização de bacias" precisa sair do discurso e ir para a prática. Na oportunidade, ela apresentou algumas ações desenvolvidas pela Seapa que refletem na estratégia de recuperação, como a construção de barraginhas e a proteção de nascentes e matas ciliares. “Estamos sempre preocupados e trabalhando na intensificação dos esforços na busca pela sustentabilidade”, pontuou.

Valentini também falou sobre a ferramenta do Zoneamento Ambiental Produtivo (ZAP), desenvolvida em parceria com a Semad, que permite o diagnóstico de bacias hidrográficas. As informações da base de dados são de extrema importância para a tomada de decisão e fomento de diretrizes ambientais. O ZAP realiza levantamentos como a disponibilidade hídrica superficial, o uso e ocupação do solo e a caracterização de unidades de paisagem, de forma a possibilitar o cruzamento de dados relevantes para gestão da bacia hidrográfica ou de um conjunto de bacias.

Também presente na abertura da Semana da Água, o vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant, reforçou a importância do programa lançado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), por meio do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).

“Precisamos pensar a política da água como uma política pública e não de Estado. Por isso, o desenvolvimento de ações a longo prazo são muito importantes. Para isso, precisamos também confiar, induzir e comprometer as pessoas no desenvolvimento dessas ações de melhoria das águas de onde vivemos”, afirmou o vice-governador.

A diretora-geral do Igam, Marília Melo, apresentou a publicação “Gestão de Bacias Hidrográficas – critérios para definição de áreas prioritárias para Revitalização”. Segundo ela, o documento reúne diretrizes para a definição dos pontos em que, nesta 1ª etapa, vai atuar o Programa Estratégico para Revitalização de Bacias Hidrográficas.

“Estamos na fase de mapeamento dessas áreas. Nisso, a percepção da sociedade também é muito importante e será agregada por meio de consulta pública a ser realizada em meados do segundo semestre de 2019”, afirmou.

A diretora-geral também realizou, na programação da Semana da Água, o lançamento da Revista Mineira de Recursos Hídricos. A publicação terá como missão conhecer e disseminar novas e relevantes pesquisas científicas na área de gestão de recursos hídricos. “Nosso objetivo é trazer a academia para órgão público, nos apropriando do conhecimento acadêmico para contribuir no aprimoramento contínuo da execução da política pública das águas em Minas Gerais”, reforçou.

Em breve, será lançado um Edital de Chamamento Público para que a 1ª Edição da revista possa receber os artigos científicos. A publicação terá periodicidade semestral e será editada em formato eletrônico.

sábado, 9 de março de 2019

Elas fizeram a diferença na tragédia de Brumadinho




Servidoras estaduais, de áreas diversas, representam as centenas de mulheres que ajudaram vítimas e familiares
Montagem/Agência Minas


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Servidoras estaduais, de áreas diversas, representam as centenas de mulheres que ajudaram vítimas e familiares




Durante a Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, realizada na Dinamarca em 1910, a jornalista, professora e política alemã, Clara Zetkin, propôs que todas as mulheres do mundo se unissem, em uma mesma data, para dar voz às suas lutas e reivindicações. A proposta foi aprovada por unanimidade. Assim, surgiu o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 1911.

Passados 108 anos, as homenageadas, na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, em 2019, representam centenas de mulheres de diferentes áreas, servidoras do Estado de Minas Gerais, que atuaram na tragédia em Brumadinho, com o rompimento da Barragem 1 da Mina do Feijão. Cada uma delas contribuiu, de maneira especial, em todo o trabalho realizado, ajudando as vítimas e seus familiares.

Conheça um pouco destas mulheres, que formaram - e ainda formam - a força feminina em Brumadinho; já que muitas continuam trabalhando no local da tragédia.

Major Karla Lessa Alvarenga Leal – Piloto do Corpo de Bombeiros

A major Karla ficou conhecida, nacional e internacionalmente, após o resgate de uma sobrevivente de Brumadinho, mostrado ao vivo por uma emissora de TV. Recebe até hoje mensagens via rede social de pessoas que elogiam sua postura profissional e habilidade no resgate dramático. “As pessoas me ligaram do Oiapoque ao Chuí”, brinca. Teve até o caso de uma senhora de 82 anos, do interior do Rio de Janeiro, que, após ver as imagens do resgate, ligou para o batalhão para convidá-la para almoçar.




“É o meu trabalho, mas a repercussão e o fato de ter sido ao vivo mostrou para todos como é importante estar no lugar e hora certos. Isso é muito gratificante”.

Karla Lessa
Major e piloto do Corpo de Bombeiros



Naquele dia, ela foi a primeira a chegar ao local da tragédia, com mais cinco bombeiros. Diante da extensão da tragédia, não teve dúvidas e decidiu, em conjunto com os colegas, deixar o helicóptero o mais leve possível para fazer o maior número de resgates.Major Karla Lessa (Crédito: Gil Leonardi/Imprensa MG)

Além do treinamento, sinergia e habilidade, a bombeiro fala que é preciso ter medo, pois ele é quem limita a segurança das vítimas e dela própria. Apesar da gravidade da tragédia em Brumadinho, a major lembra que já esteve em situações de risco de morte, até mesmo com possibilidade de pane, no momento de um resgate.

“Não ter medo é perigoso”, alerta. Major Karla diz que espera que outras mulheres não desistam de sonhos e busquem realizar o que quiserem. “Podemos tudo “, conclui.

“A tragédia de Brumadinho foi, com certeza, a ação de maior envergadura de que participei. Não só pelo número de mortos, mas também pela enorme carga emocional exigida”, diz a major, piloto do Corpo de Bombeiros e primeira comandante de aeronaves do Brasil. Ingressou na corporação depois de ouvir a palestra de um bombeiro cadete na UFMG, onde cursava Engenharia Química. Não teve dúvidas: trancou a matrícula e se inscreveu no concurso público para Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros.

Nesses 20 anos, a major Karla passou por vários treinamentos, até se decidir, em 2009, se tornar piloto. Novamente se inscreveu em um concurso interno, sendo aprovada, após ser submetida a testes físicos, psicológicos, práticos e teóricos.

Casada, diz que a maternidade ainda não faz falta. “Foi opção não ter filhos. O meu trabalho, talvez, ficasse muito mais difícil, por saber que em casa, além do marido, deixei um filho”, diz, admitindo que nada é definitivo.



Sargento PM Gisele Bertucci – Polícia Militar Rodoviária

A sargento Bertucci considera Brumadinho o pior local onde atuou, pelo número de mortos e pela situação vivida por todos. Ela chegou cerca de uma hora após o rompimento da barragem e foi a responsável pelo cerco e bloqueio de carros nas rodovias de acesso ao local da tragédia. Além disso, ficou incumbida de impedir que familiares, moradores e curiosos chegassem próximo da região afetada.A sargento PM, Gisele Bertucci, da Polícia Militar Rodoviária (Crédito: Renato Cobucci/Imprensa MG)


“Nessa hora, as pessoas, por mais que queiram ajudar, acabam prejudicando. E podem aumentar o número de vítimas”, diz.

O que parece ser fácil, segundo ela, provoca reações inesperadas e mexem com o coração de qualquer um. A sargento lembrou o caso de um senhor que, apareceu pedindo para que o deixassem passar, pois precisava salvar sua família. Chegou a se ajoelhar e implorar pelo amor de Deus para que o liberassem. A sargento Bertucci ressalta que, mesmo impactada diante daquela situação, tem que fazer o seu trabalho. Felizmente, depois foi informada que todos os familiares daquele senhor aflito se salvaram.

“A mulher tem mais sensibilidade do que os homens, mas, em situações como a da tragédia de Brumadinho, temos de nos manter serenas para evitar que os sentimentos aflorem, além do normal. Todas nós sofremos com o impacto de tragédias como essas”. Desta forma, a 3º sargento Gisele Bertucci resumiu sua participação no pós-rompimento da barragem em Brumadinho.

“Minha área de atuação sempre foi Saúde, mas, desde 2016, estou no Batalhão de Polícia Militar Rodoviária”, conta. Ela está na Polícia Militar, desde 2009, incentivada pelo marido, também militar.




“ Ser policial me mostrou que poderia ajudar a um grupo maior, sempre quis servir de alguma forma. Na Polícia Militar, me encontrei”.

Gisele Bertucci
Sargento PM - Polícia Militar Rodoviária



Assim como a major Karla Lessa, Bertucci também optou por não ter filhos. “O mundo está muito violento e, depois de fazer parto em uma viatura, realmente vi que não era para mim”, justifica.



Fernanda de Oliveira Costa – Policial Civil
A policial civil, Fernanda de Oliveira (Crédito: Gil Leonardi/Imprensa MG)

Segurar um fuzil de quase seis quilos e ficar na porta de um helicóptero, dando apoio aéreo em operações policiais e em tragédias, como a de Brumadinho. Este tem sido o dia a dia da policial civil, Fernanda de Oliveira Costa, 36 anos, nove deles na corporação.

Sua rotina, nos últimos 40 dias, tem sido um revezamento com colegas, em Brumadinho, dando segurança aérea aos que trabalham em terra. Muitos a chamam de os olhos da operação ou observadora aérea.

Com função totalmente operacional, Fernanda diz que sempre quis ser policial, e que, curiosamente, fez um curso de comissária de voo sem imaginar que iria se tornar uma tripulante de aeronave.

“Minha função é ficar de olho no movimento no entorno dos locais onde a ação se desenrola”, explica. Normalmente, são áreas de risco, pelo próprio tipo do acidente. Fernanda ressalta que é necessária a contenção, pela Polícia Civil, das pessoas que querem se aproximar.




“Atuo como segurança armada nessas situações, onde pode haver um descontrole da população que cause tumulto. O helicóptero é também usado pelos bombeiros, como foi, nos resgates”.

Fernanda de Oliveira Costa
Policial Civil



A policial tem um filho de 20 anos. Ela conta que o rapaz, por ser independente, entende os horários e as necessidades que ela tem em se ausentar. “Ele não quis seguir a carreira policial, mas escolheu a medicina, que, de alguma forma, também tem como objetivo ajudar ao próximo”.


Lucinéia Carvalhais – Médica infectologistaA médica infectologista, Lucinéia Carvalhais (Crédito: Marco Evangelista/Imprensa MG)

“No momento de dor, a sensibilidade das mulheres, com certeza, acalma o coração de quem está sofrendo”, diz a médica infectologista Lucinéia Carvalhais, sobre seu trabalho no IML/Acadepol, durante o serviço de identificação das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho.

Ela fez parte do Grupo de Resposta Rápida da Saúde, que reuniu 95 profissionais, entre enfermeiros, médicos e psicólogos, que ficaram de prontidão, acolhendo familiares das vítimas da tragédia, inicialmente, durante três dias. Sem descanso.

Lucinéia, que trabalha no Hospital Eduardo de Menezes, como infectologista, desde 1998, conta que o grupo multidisciplinar é preparado para atender rapidamente, em casos de sinistros e ocorrências como essas. Além do apoio emocional, os integrantes foram os responsáveis pela coleta de material genético para identificação dos mortos.




“Foram momentos dolorosos. Não temos como prever qual será a reação das pessoas. Nesse momento, o fato de ser mulher faz com que a percepção de acolhimento, de abraço, seja real”.

Lucinéia Carvalhais
Médica infectologista



Acostumada a trabalhar sob intensa carga emocional, a médica garante que está preparada. “Estamos num hospital referência e sempre preparados para atuar, até no caso de um surto de ebola”.

Lucinéia diz que, coincidentemente, 95% da equipe envolvida no trabalho de Brumadinho foi composta por mulheres e que a maioria foi recrutada via rede social, através de grupos da saúde. “O rompimento ocorreu no início da tarde do dia 25 de janeiro. Na manhã seguinte, dia 26, o grupo estava completo. Essa é nossa função: responder rapidamente em casos de epidemias, acidentes de grandes proporções e estar sempre preparados para atuar”, garante.



Marcela Oliveira do Carmo – Analista Técnica da CedecA analista técnica da Cedec, Marcela de Oliveira do Carmo (Crédito: Renato Cobucci/Imprensa MG)

Agilidade, conhecimento e capacidade de análise em meio à crise. Estas são características que um profissional da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec-MG) precisa ter para atuar em situações como a tragédia de Brumadinho. E Marcela de Oliveira do Carmo, analista técnica de processos para casos de calamidade pública, tem essas características de sobra.

Ela é a responsável por colher documentos junto ao município, Estado, diversos órgãos e elaborar um processo que justifique a decretação do estado de calamidade pública.

O trabalho, segundo Marcela, tem que ser feito com muito cuidado pois, além de ser obrigatório, é ele que vai definir se o governo federal vai liberar verbas emergenciais.

Essa documentação também é usada para justificar o uso das Forças Nacionais em caso de tragédia ou calamidade pública.

Marcela do Carmo explica que toda a documentação é enviada para a Defesa Civil Nacional. Lá os documentos passam por avaliação criteriosa e são, ou não, aprovados.

Ela conta que, no caso de Brumadinho, o pedido de decretação do estado de calamidade pública, feito pelo governador Romeu Zema, teve aprovação ágil e unânime.